Confraria do Jornalismo

quarta-feira, maio 30, 2007

O fade in de um governo



De fato, concordo com meu amigo que as imagens falam por si só. Nós, brasileiros, estivemos privados da liberdade de imprensa (e individual) durante o período da ditadura. Por isso, ações como as que vimos no início desta semana provocaram calafrios em muitas pessoas. Até mesmo o senador José Sarney se pronunciou contra o fim da transmissão da RCTV - logo ele, que mandou censurar blogs que faziam propaganda contra sua eleição no Amapá, e que tem a concessão de várias empresas de comunicação ao seu favor, para o seu bel-prazer.

O vídeo acima é, na íntegra, o documentário "A Revolução não será televisionada", uma produção holandesa, feito no período em que um golpe de estado tirou Hugo Chávez do poder durante quatro dias. Quem assistiu ao filme "E estrelando Pancho Villa" (2003), consegue traçar o principal elemento que caracteriza os caudilhos de diferentes épocas: o bem da pátria às custas do sofrimento da nação.

O fade out de uma TV



Basta apenas a imagem, mais nada. Até porque, como disse nosso presidente ontem, isso é questão deles e não queremos que eles se metam nas nossas coisas. Não vou dizer que é uma ação ditatorial e que, se havia irregularidades, o certo seria buscar o processo na justiça. Mas não posso afirmar isso. Vivendo longe de Caracas e com todos os filtros pelos quais as notícias passam até chegar aqui, prefiro não fazer maiores comentários sobre o caso.

terça-feira, maio 22, 2007

Uma mentira como verdade (e alguém deu bola?)

"Uma mentira dita mil vezes, torna-se uma verdade"
Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista


Enfim saiu o gol mil do Romário. Na verdade, o que ele diz ser. As estatísticas da FIFA apontam 902, ainda assim uma marca impressionante, que o coloca como o segundo maior artilheiro da história do futebol, atrás apenas de Pelé. Ou seja, ele não precisava se expor tanto aos 41 anos, pois foi um grande jogador com lugar garantido nas memórias do esporte, sem forçar a barra.


Mas num país dito livre e democrático, qualquer um pode falar aquilo que quer, sendo responsável por essa opinião. Assim, Romário pode dizer ter feitos quantos gols bem entender. Ainda que conte tentos feitos em partidas como profissional, amistosos, categorias de base e peladas entre amigos, é seu direito. Caberia aos veículos de comunicação dar crédito a isso ou não, fazendo o julgamento racional do fato.

Por isso, o problema maior dos mil gols de Romário é que hoje a mídia brasileira e internacional entrou em pane e, desta vez, de forma descarada, uma mentira conhecida por todos foi publicada como fato real, como algo tão verdadeiro quanto a violência e o aumento do salário dos deputados. Manchetes de capa, horas de vídeos com a interminável repetição do pênalti e toda a cobertura que ainda virá para um fato que não existe.

Aproveitando, então, anuncio que estou voltando ao futebol de botão. Segundo meus cálculos, faltam 43 gols para eu chegar a marca dos mil. O primeiro jogo está marcado: meu Gremio de 83 contra o Íbis dos anos 70!

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Notinhas curtas sobre rádios nesses últimos dias:

Termina o jogo Gremio x Defensor, no Uruguai. Repórter entrevista jogador do time uruguaio, que falou no espanhol mais rápido que já tinha escutado na vida. Terminada a resposta, o jornalista pede, educadamente: “Por favor, puede hablar más despacito, para nuestros amigos de Brasil!”. A segunda resposta foi mais rápida que a primeira.

De direção nova, a Rádio Guaíba, nessa segunda, anunciou no seu último programa jornalístico, o Jornal da Noite, as manchetes dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho, do Grupo RBS. Aliás, há dias o locutor, ao avisar a meia-noite, vinha dizendo: “Na Rua Caldas Júnior, zero hora”.

Produtor liga para um dos países vizinhos para marcar uma entrevista. Atendida a ligação, diz alô e já emenda um “Quien fabla?”

quarta-feira, maio 16, 2007

Eu não vi o Papa...

Em tempos de uma igreja católica tão rígida, não sei se é pecado o fato de não ter acompanhado muitas coisas da visita do Papa Bento XVI na última semana. Vi basicamente o tradicional o Papa foi aqui e ali, fez isso, fez aquilo, criticou aquilo outro, sem me aprofundar muito.

Papa Bento XVI (no detalhe, com zoom de algumas vezes) em uma benção na Praça de São Pedro. Ainda muito distante do povo...

A primeira imagem que vi foi a da chegada de Bento XVI na quarta. Estava curioso para ver se aconteceria o beijo no chão como fazia seu antecessor. Mas tão logo desceu as escadarias do avião da Alitalia foi direto cumprimentar as autoridades que ali estavam. Vi a repetição da cena pela Band, no programa do Datena, que havia entrado ao vivo, e parecia ter relembrado seus tempos de futebol, falando mais ou menos assim: “Abriu a porta do avião, é o Papa que está chegando minha gente, apareceu alguém por ali, atenção, olha lá, vem chegando pelo corredor e... APARECEU O PAPA! (agora aos berros, esquecendo que o microfone já amplia a voz) O Papa está no Brasil! (3 vezes) O Santo homem está entre nós! Bem vindo!”. Enfim, provavelmente pela emoção do momento, acabou até elogiando o Lula. “Esse é o verdadeiro homem do povo, um torneiro mecânico que se tornou presidente e tão bem representa o povo brasileiro”, disse. O pessoal da clipagem do Planalto tem que guardar essa, o Datena não vai repetir...

A todo momento, a mídia tratava de amenizar os severos discursos que Ratzinger fez no Brasil. Diziam estar impressionados com a simpatia dele, pois esperavam alguém sisudo. Mas alguém já viu visitante convidado de cara fechada? Só se você é obrigado a visitar aquela tia que não gosta, aí sim.

A verdade é que o atual Papa não é carismático. Mas é educado, e por isso responde a atenção que lhe é dada com certa simpatia. Tal qual se falava do Serra nas eleições 2002. Na Itália, por exemplo, ao invés de Benedetto XVI, o chamam de Papa Ratzinger. Ainda não houve integração entre os vizinhos, não se desfez a imagem do conservador cardeal alemão. Qualquer tentativa foi agravada em novembro do último ano, quando alguns assessores do Vaticano criticaram humoristas italianos como Maurizio Crozza (procure no YouTube) e Fiorello pelas sátiras que faziam ao comandante da Igreja Católica. Mas como disseram à época num programa de debates na TV, tem meio melhor de humanizar alguém do que o humor?

A todo instante os meios envolvidos na cobertura da visita procuravam enfocar a quantidade de pessoas que esperavam por qualquer palavrinha do Papa, mesmo com o atípico frio. Penso que, se um ser de outro planeta baixasse em São Paulo naqueles dias, não conseguiria distinguir se era um encontro religioso ou fãs da banda pop do momento. Claro, a maioria estava ali por suas convicções, mas a muitos os rígidos discursos em relação a aborto, respeito à família, valores morais e castidade entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Mas as fotos de Ratzinger e as lembrancinhas vendidas pelos ambulantes já estão junto aos recortes sobre RBD, Backstreet Boys, New Kids on the Block, Menudos e outros tantos autógrafos de artistas e jogadores de futebol.

quarta-feira, maio 09, 2007

Cinecittà: 70 anos na produção de sonhos

Lendo um informativo da escola de italiano, descobri que Cinecittà completou 70 anos no final de abril. A “Cidade do Cinema” ocupa uma área de 400.000 m² em Roma (o equivalente a 40 campos de futebol), possui 22 estúdios e foi fundada em 1937, com um motivo não muito nobre. À época, a Itália estava sob o comando do fascismo e, na visão do Duce Mussolini o cinema era o principal meio para propaganda.


Cinecittà vista do alto. Seu perímetro é de 3km. (Imagem do Google Earth)

Com o fim da 2ª Guerra Mundial e, por conseqüência, a queda do regime, começa o período do auge dos estúdios, levando a ser reconhecido como a Hollywood italiana. A partir dos anos 50, é a intensa a circulação de produtores e artistas de sucesso nos Estados Unidos em terras italianas. Sem entrar nas questões políticas dessa atitude, ali foram filmados, por exemplo, “Ben Hur” e “Cleopatra”.

Os “pratas da casa” também não deixam por menos. Diretores como Roberto Rossellini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti criaram ali obras primas que inseriram o cinema italiano no rolo das grandes produções internacionais, por seu estilo próprio de contar suas histórias. Neste aspecto, não dá para esquecer de Federico Fellini, fiel locatário do Estúdio nº 5. Naquele espaço de 40x80m, com o apoio de grandes cenógrafos, transformou em realidade os sonhos que davam origens aos seus filmes. Ali também recriou sua cidade natal, Rimini, e rodou clássicos como “A Doce Vida” (de certa forma, uma história sobre a própria influência da Cinecittà na Itália), “E la nave va”, “Amarcord”, “Satyricon”...


Pórtico da Cinecittà na Via Tuscolana, em Roma, numa tenebrosa tarde de outono.

Após tantos sucessos, Cinecittà passou por um período de dificuldades nas décadas de 70 e 80, iniciando na última década, quando foi parcialmente privatizada, um processo de lenta recuperação. Desse período mais recente, hospedou os sets de filmes como “O Poderoso Chefão 3”, “Daylight”, “O Paciente Inglês” e “Gangues de Nova York”.