Em tempos de uma igreja católica tão rígida, não sei se é pecado o fato de não ter acompanhado muitas coisas da visita do Papa Bento XVI na última semana. Vi basicamente o tradicional o Papa foi aqui e ali, fez isso, fez aquilo, criticou aquilo outro, sem me aprofundar muito.
Papa Bento XVI (no detalhe, com zoom de algumas vezes) em uma benção na Praça de São Pedro. Ainda muito distante do povo... A primeira imagem que vi foi a da chegada de Bento XVI na quarta. Estava curioso para ver se aconteceria o beijo no chão como fazia seu antecessor. Mas tão logo desceu as escadarias do avião da Alitalia foi direto cumprimentar as autoridades que ali estavam. Vi a repetição da cena pela Band, no programa do Datena, que havia entrado ao vivo, e parecia ter relembrado seus tempos de futebol, falando mais ou menos assim: “Abriu a porta do avião, é o Papa que está chegando minha gente, apareceu alguém por ali, atenção, olha lá, vem chegando pelo corredor e... APARECEU O PAPA! (agora aos berros, esquecendo que o microfone já amplia a voz) O Papa está no Brasil! (3 vezes) O Santo homem está entre nós! Bem vindo!”. Enfim, provavelmente pela emoção do momento, acabou até elogiando o Lula.
“Esse é o verdadeiro homem do povo, um torneiro mecânico que se tornou presidente e tão bem representa o povo brasileiro”, disse. O pessoal da clipagem do Planalto tem que guardar essa, o Datena não vai repetir...
A todo momento, a mídia tratava de amenizar os severos discursos que Ratzinger fez no Brasil. Diziam estar impressionados com a simpatia dele, pois esperavam alguém sisudo. Mas alguém já viu visitante convidado de cara fechada? Só se você é obrigado a visitar aquela tia que não gosta, aí sim.
A verdade é que o atual Papa não é carismático. Mas é educado, e por isso responde a atenção que lhe é dada com certa simpatia. Tal qual se falava do Serra nas eleições 2002. Na Itália, por exemplo, ao invés de Benedetto XVI, o chamam de Papa Ratzinger. Ainda não houve integração entre os vizinhos, não se desfez a imagem do conservador cardeal alemão. Qualquer tentativa foi agravada em novembro do último ano, quando alguns assessores do Vaticano criticaram humoristas italianos como Maurizio Crozza (procure no YouTube) e Fiorello pelas sátiras que faziam ao comandante da Igreja Católica. Mas como disseram à época num programa de debates na TV, tem meio melhor de humanizar alguém do que o humor?
A todo instante os meios envolvidos na cobertura da visita procuravam enfocar a quantidade de pessoas que esperavam por qualquer palavrinha do Papa, mesmo com o atípico frio. Penso que, se um ser de outro planeta baixasse em São Paulo naqueles dias, não conseguiria distinguir se era um encontro religioso ou fãs da banda pop do momento. Claro, a maioria estava ali por suas convicções, mas a muitos os rígidos discursos em relação a aborto, respeito à família, valores morais e castidade entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Mas as fotos de Ratzinger e as lembrancinhas vendidas pelos ambulantes já estão junto aos recortes sobre RBD, Backstreet Boys, New Kids on the Block, Menudos e outros tantos autógrafos de artistas e jogadores de futebol.