Pelo que reclamam nas terras de Sepé
Idos do século XVIII, ao sul da América. O interesse do governo da Espanha pela Colônia do Sacramento e de Portugal pelos campos da missões jesuíticas levaram a um acordo entre ambos pela troca de territórios. Para tanto, os portugueses pretendiam retirar daquelas terras os nativos que ali habitavam. Para um deles, Sepé Tiaraju, aquele tratado não valia nada. "Esta terra tem dono e nos foi dada por Deus e São Miguel", bradou, transformando a frase num símbolo da resistência.
Sepé foi morto há 250 anos durante uma das batalhas da guerra guaranítica. Por suas ações, o povo lhe conhecia como São Sepé. Este é o nome de um município da região central do Rio Grande do Sul, distante 241km de Porto Alegre. Mas quem produz nas terras que homenageiam o líder missioneiro andam insatisfeitos com a situação atual da agricultura, principal atividade econômica da cidade.
“Se continuar assim, vou ter que parar”
O amplo apartamento em um prédio de esquina, cuja construção também pertence à família, demonstra que tanto trabalho ao longo de uma vida inteira teve resultado. Entretanto, o agricultor não está contente. “Se a situação continuar como está, não vejo outro modo a não ser parar de produzir. Só complicam as coisas”, afirma.
Ele não é dono de propriedades, apenas arrenda de outros proprietários para poder plantar. A reclamação se concentra no governo e na burocracia. “Sou empregador, mas não tenho direito nenhum, apenas obrigações. Tenho que estar sempre trabalhando para dar conta. Sabe o que vou fazer? Vou abandonar e mandar todo mundo embora, se não querem que a gente crie empregos.”
A presença de ambientalistas na região, há poucos dias, era o foco mais recente de críticas. O plantio do arroz está começando e, para economizar em custos de produção, nosso entrevistado comprou uma bomba de puxar água de maior capacidade. Mas as últimas estiagens no estado levaram os órgãos ambientais a restringir a captação de águas de rios. “Não entendo isso. A terra precisa de água. Uso apenas o necessário. O que sobra volta para o rio. Porque incomodam tanto? Na verdade, se eu substituir a minha bomba por cinco menores, aí pode. Quem entende?”, questiona. O agricultor também identifica a falta de união entre os próprios produtores rurais. “Eles têm muita inveja. Que culpa eu tenho se começo a trabalhar a terra antes e estou adiantado quando eles começam a plantar?”, afirma.
“O arroz do Uruguai pode, porque os insumos de lá não?”
Anoitece, estamos em outra casa. Conversando sobre custos de produção, um agricultor dá um exemplo como comparação. Para poder combater uma flor roxa que nasce entre os grãos, é necessário comprar um veneno específico. No Brasil, o quilo do produto, aplicado, chega a R$ 2.500,00. A pouco mais de 200km, no Uruguai, a mesma quantidade pode ser comprada por R$ 250,00. “Pode ser ilegal, mas o que vamos fazer para competir? Entra tanto arroz uruguaio e eles não fazem nada. Porque um insumo não pode?”
Apesar da crise, o fogo na churrasqueira vai assando pedaços de carnes de ovelha, porco e uma costela bovina de animais que antes circulavam na propriedade do aniversariante. Nas rodas de conversa que se formam, o assunto fica entre a proximidade das eleições, os escândalos políticos e, claro, as dificuldades do dia a dia no trabalho da terra.
Sepé foi morto há 250 anos durante uma das batalhas da guerra guaranítica. Por suas ações, o povo lhe conhecia como São Sepé. Este é o nome de um município da região central do Rio Grande do Sul, distante 241km de Porto Alegre. Mas quem produz nas terras que homenageiam o líder missioneiro andam insatisfeitos com a situação atual da agricultura, principal atividade econômica da cidade.
“Se continuar assim, vou ter que parar”
O amplo apartamento em um prédio de esquina, cuja construção também pertence à família, demonstra que tanto trabalho ao longo de uma vida inteira teve resultado. Entretanto, o agricultor não está contente. “Se a situação continuar como está, não vejo outro modo a não ser parar de produzir. Só complicam as coisas”, afirma.
Ele não é dono de propriedades, apenas arrenda de outros proprietários para poder plantar. A reclamação se concentra no governo e na burocracia. “Sou empregador, mas não tenho direito nenhum, apenas obrigações. Tenho que estar sempre trabalhando para dar conta. Sabe o que vou fazer? Vou abandonar e mandar todo mundo embora, se não querem que a gente crie empregos.”
A presença de ambientalistas na região, há poucos dias, era o foco mais recente de críticas. O plantio do arroz está começando e, para economizar em custos de produção, nosso entrevistado comprou uma bomba de puxar água de maior capacidade. Mas as últimas estiagens no estado levaram os órgãos ambientais a restringir a captação de águas de rios. “Não entendo isso. A terra precisa de água. Uso apenas o necessário. O que sobra volta para o rio. Porque incomodam tanto? Na verdade, se eu substituir a minha bomba por cinco menores, aí pode. Quem entende?”, questiona. O agricultor também identifica a falta de união entre os próprios produtores rurais. “Eles têm muita inveja. Que culpa eu tenho se começo a trabalhar a terra antes e estou adiantado quando eles começam a plantar?”, afirma.
“O arroz do Uruguai pode, porque os insumos de lá não?”
Anoitece, estamos em outra casa. Conversando sobre custos de produção, um agricultor dá um exemplo como comparação. Para poder combater uma flor roxa que nasce entre os grãos, é necessário comprar um veneno específico. No Brasil, o quilo do produto, aplicado, chega a R$ 2.500,00. A pouco mais de 200km, no Uruguai, a mesma quantidade pode ser comprada por R$ 250,00. “Pode ser ilegal, mas o que vamos fazer para competir? Entra tanto arroz uruguaio e eles não fazem nada. Porque um insumo não pode?”
Apesar da crise, o fogo na churrasqueira vai assando pedaços de carnes de ovelha, porco e uma costela bovina de animais que antes circulavam na propriedade do aniversariante. Nas rodas de conversa que se formam, o assunto fica entre a proximidade das eleições, os escândalos políticos e, claro, as dificuldades do dia a dia no trabalho da terra.