Confraria do Jornalismo

quarta-feira, setembro 27, 2006

Pelo que reclamam nas terras de Sepé

Idos do século XVIII, ao sul da América. O interesse do governo da Espanha pela Colônia do Sacramento e de Portugal pelos campos da missões jesuíticas levaram a um acordo entre ambos pela troca de territórios. Para tanto, os portugueses pretendiam retirar daquelas terras os nativos que ali habitavam. Para um deles, Sepé Tiaraju, aquele tratado não valia nada. "Esta terra tem dono e nos foi dada por Deus e São Miguel", bradou, transformando a frase num símbolo da resistência.

Sepé foi morto há 250 anos durante uma das batalhas da guerra guaranítica. Por suas ações, o povo lhe conhecia como São Sepé. Este é o nome de um município da região central do Rio Grande do Sul, distante 241km de Porto Alegre. Mas quem produz nas terras que homenageiam o líder missioneiro andam insatisfeitos com a situação atual da agricultura, principal atividade econômica da cidade.

“Se continuar assim, vou ter que parar”

O amplo apartamento em um prédio de esquina, cuja construção também pertence à família, demonstra que tanto trabalho ao longo de uma vida inteira teve resultado. Entretanto, o agricultor não está contente. “Se a situação continuar como está, não vejo outro modo a não ser parar de produzir. Só complicam as coisas”, afirma.

Ele não é dono de propriedades, apenas arrenda de outros proprietários para poder plantar. A reclamação se concentra no governo e na burocracia. “Sou empregador, mas não tenho direito nenhum, apenas obrigações. Tenho que estar sempre trabalhando para dar conta. Sabe o que vou fazer? Vou abandonar e mandar todo mundo embora, se não querem que a gente crie empregos.”

A presença de ambientalistas na região, há poucos dias, era o foco mais recente de críticas. O plantio do arroz está começando e, para economizar em custos de produção, nosso entrevistado comprou uma bomba de puxar água de maior capacidade. Mas as últimas estiagens no estado levaram os órgãos ambientais a restringir a captação de águas de rios. “Não entendo isso. A terra precisa de água. Uso apenas o necessário. O que sobra volta para o rio. Porque incomodam tanto? Na verdade, se eu substituir a minha bomba por cinco menores, aí pode. Quem entende?”, questiona. O agricultor também identifica a falta de união entre os próprios produtores rurais. “Eles têm muita inveja. Que culpa eu tenho se começo a trabalhar a terra antes e estou adiantado quando eles começam a plantar?”, afirma.

“O arroz do Uruguai pode, porque os insumos de lá não?”

Anoitece, estamos em outra casa. Conversando sobre custos de produção, um agricultor dá um exemplo como comparação. Para poder combater uma flor roxa que nasce entre os grãos, é necessário comprar um veneno específico. No Brasil, o quilo do produto, aplicado, chega a R$ 2.500,00. A pouco mais de 200km, no Uruguai, a mesma quantidade pode ser comprada por R$ 250,00. “Pode ser ilegal, mas o que vamos fazer para competir? Entra tanto arroz uruguaio e eles não fazem nada. Porque um insumo não pode?”

Apesar da crise, o fogo na churrasqueira vai assando pedaços de carnes de ovelha, porco e uma costela bovina de animais que antes circulavam na propriedade do aniversariante. Nas rodas de conversa que se formam, o assunto fica entre a proximidade das eleições, os escândalos políticos e, claro, as dificuldades do dia a dia no trabalho da terra.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Odeio Estrangeirismos

Odeio estrangeirismos. Sempre odiei. Enfrentei uma grande resistência psicológica para entrar no cursinho de inglês por causa disso, além é claro, da maldita lista de verbos irregulares, que poucos sabem conjugar. O pior é quando eles gostam de alguma coisa que eles criam. Gostam tanto que transformam ela num verbo. Foi o caso do Google, que segundo a gramática do Tio Sam, agora é "to google", que significa a busca de termos na internet. Seria "to google" mais um daqueles verbos irregulares que me incomodaram por anos a fio?

E quando alguém vai me agradecer por algo e fala "muito thank you"? Se não tivesse bons modos, falaria um palavrão em bom português. Tem gente que faz esta mistureba de idiomas para ostentar um falso status de cultura estrangeira. Comparo as pessoas que fazem isso com aquelas que usam uma camiseta com alguma frase em inglês na estampa, mas não sabem o que está escrito nela.

Um socialista que por ventura venha a ler este texto dirá que é culpa da globalização...

Me lembro de ter visto algo memorável na TV há alguns anos. Se não me engano era um evento na Feira Literária de Paraty e o escritor Ariano Suassuna palestrava em defesa da língua portuguesa, quando passou os olhos pelo cronograma do evento e disparou: "Estamos aqui falando da preservação da língua portuguesa, mas no cronograma tá escrito 'coffebreak'. Por que não colocaram 'pausa para o café'?" O velhinho matou a pau com essa. Desde então, tenho evitado todo e qualquer uso destes termos na minha vida. E se alguém quiser me ajudar, procuro uma definição tupiniquim para "marketing".

Mas infelizmente, no exercício do jornalismo, eu acabo me deparando com eles. Fazemos meeting ao invés de reunião; trocamos a lista de tarefas pelo check-list; não damos retorno ao repórter, damos feedback... dentre outras coisas.

O que mais me deixa angustiado é o "lead".

Para quem não sabe, "lead" é o primeiro parágrafo de uma matéria. Nele devem constar a resposta para os principais questionamentos de um fato: o quê, quem, quando, como, onde e por quê? A prática do "lead" na imprensa foi importada dos grandes jornais europeus. A intenção é manter o leitor informado sobre os acontecimentos, sintetizando a notícia de modo que ele não precise aprofundar a leitura em um texto muito longo. E a nossa imprensa achou bonito e fez como aquelas pessoas que citei lá em cima: vestiram a camisa sem saber o que estava escrito na estampa.

Temos uma mania incondicional de macaquear tudo o que vem do dito "primeiro mundo", como se eles fossem um exemplo de perfeição midiática. E então, nossos programas de TV, de rádio, nosso noticiário, nossos jornais seguem o mesmo padrão, em busca de uma falsa modernidade.

E esquecem de uma coisa: do leitor. Nosso público é diferente do europeu ou do americano. Será que eles querem uma leitura mais rápida? Ou mais densa? O texto está na linguagem correta para o entendimento do leitor? A informação é relevante? Por que os meios de comunicação, ao invés de investir na compra da receita de outros países, não cria a sua própria arte jornalistica?

Estas perguntas não seriam respondidas de maneira sintetizada num "lead". Por isso odeio estrangeirismos.

E... alguém aí já sabe que termo eu posso usar no lugar de "marketing"?

segunda-feira, setembro 11, 2006

Luz, câmera, enganação

Colunista político gaúcho escreveu em seu espaço que, ao contrário de 2002, as eleições deste ano estão marcadas por marqueteiros longe dos holofotes, aparecendo menos que os candidatos.

De qualquer forma, pude comprovar que o circo está armado. Aconteceu na sexta, perto do meio-dia, mas se você estiver em Porto Alegre e passar entre a Esquina Democrática e a Praça da Alfândega até o final das eleições é provável que veja situações parecidas.

Esquina da Borges com Andradas. Um grupo agita bandeiras e canta jingles enquanto aguarda a chegada de uma candidata para o início de uma caminhada pelo centro. Poucos passos depois, sobre um pequeno pedestal, a equipe de uma produtora de vídeo busca a melhor posição para gravar a descida e garantir o material do horário eleitoral. Comentam sobre a necessidade do uso de um plano mais fechado, uma vez que não tem muita gente no ato.

Mais adiante, um indivíduo, ao estilo antigo, grita ao megafone a presença de candidata a deputada que convida os passantes a uma troca de idéias, enaltecendo as qualidades dela e criticando concorrentes. De sorriso sempre aberto, a mulher cumprimenta a todos como uma máquina. Tal qual um robô, vai repetindo: "conto contigo, conto contigo, conto contigo..."

Passando mais uns 50 metros, um operador de câmera e um técnico de áudio ostentam seus equipamentos enquanto um produtor ajeita um anônimo para a gravação de um depoimento. “É simples, basta ler este cartaz aqui, ó. Fala com alegria, bem pra cima, vamos lá!”, diz, mostrando um papel onde se podia ler “voto no fulano porque estou certo que ele tem a melhor capacidade de gestão”.

Assim, em pouco mais de três semanas, seremos os avaliadores destas encenações, como jurados num festival de publicidade qualquer. Os marqueteiros podem estar mais sumidos, é verdade, mas sinto uma campanha com uma “maquiagem” também maior. A maioria que deveria saber disso nem terá conhecimento.

domingo, setembro 10, 2006

Oh! O domingo na TV!

Buenas, caríssimos, Ane Meira se apresentando para dar início às contribuíções a esse promissor sítio.
Desde já proponho que taquemos fogo na fogueira. Ou melhor, na TV.
Hoje, dia da minha primeira manifestação, ocorre que estamos num dia de domingo. Um domingo ensolarado, com crianças enlouquecidas na rua e Parque da Redença cheio de políticos distribuindo santinhos. E Ane Meira está em casa.
Ane Meira está em casa por que gosta de ficar enfurnada em casa em domingos ensolarados, assistindo tv.
Porém, há tempos abandonei esse hobby considerado grotesco por muitos. Abandonei visto a má qualidade da TV aberta (observem que a tv a cabo ainda não chegou até o lar desta que vos fala. Classe média é classe média).
É de chorar. Um perigo para quem tem tendências psicóticas. E já que a maioria dos jornalistas apresentam esse traço peculiar na sua personalidade, nem me atrevo a citar o que nos brinda a programação dominical dos canais abertos.
Tá tão escroto que eu até tô considerando a leitura de livros para o TC, melhor do que ficar com as pernas para o ar, na frente da telinha.
Esse fenômeno não é recente. Credito isso justamente ao crescimento da TV paga. A evasão de cérebros viabilizadores de boa programação aconteceu com o advento da TV a cabo e do milagre da multiplicação de canais. A qualidade dos canais a cabo em detrimento dos de TV aberta cresce a olhos vistos. E ainda é muito caro ter tv a cabo para o brasileiro médio, porém a segmentação dos canais sempre cria demanda, ou seja, dá pra conservar um bom nível.
Não que isso seja de todo ruim. Há mais espaço para trabalharmos futuramente. Mas para o Brasil, lugar onde as crianças são educadas basicamente pela TV, é péssimo. E não vamos esquecer que a luta pela audiência continua fazendo decair mais e mais a qualidade.
Por isso proponho: no domingo, desligue a TV. Ou leia um bom livro, ou então faça como eu, aqueça a cadeira do computador com suas nádegas e acima de tudo, seja feliz!

Introdução

Bom, vamos lá...

Este blog surgiu a partir de inúmeras conversas com os membros participantes citados ao lado. A intenção é soltar o verbo - falar sobre tudo que der na telha, principalmente se tiver a ver com jornalismo e afins.

Vamos trocar experiências, falar bobagens, criticar (e muito) a mídia, e... já falei em bobagens desenfradas?

O melhor de tudo é que os malucos que irão escrever aqui possuem opiniões diversas - quebra-pau garantido.

Então acesse djá e deguste os textos da Confraria do Jornalismo. Só não guspa-os depois.