Confraria do Jornalismo

quarta-feira, agosto 01, 2007

O que aquele cara vai fazer?

Mandar tchauzinho, fazer gestos obscenos, dançar a “dança do siri”, xingar, o que mais alguém pode fazer atrás de um repórter ao vivo na TV?



Esse inglês se superou. Em meio às enchentes em Oxford, o cara achou tempo para isso. Já que o pub estava alagado, uma nova diversão era necessária. O problema é que o engraçadinho foi identificado pela Polícia e será multado em 80 libras por ofensa à ordem pública.

Mas como disse meu pai, poderia ter sido pior, ele poderia ter atirado ela na água.

quarta-feira, julho 11, 2007

Confiar ou desconfiar?

O Brasil ganhou ontem do Uruguai nas semifinais da Copa América 2007. Não merecia, foi no sufoco, teve muita sorte e qualquer outra coisa que não caracterize a vitória como conseqüência da qualidade do time pode ser dita. E é a mais pura verdade.

Mas na segunda, ainda no embalo dos 6 x 1 contra o Chile na última fase, parecia que o Brasil tinha embalado. No dia 9 de julho, a Folha de São Paulo colocou num título essa motivação. Ou seria o contrário?


Essa notícia me chamou a atenção. Queria a imagem da página, mas só consegui essa chamada na versão online do jornal. “Agora, seleção diz confiar na seleção”. A frase parece clara. Mas uma leitura rápida e você pode entender “Agora, seleção desconfiar na seleção”. Não à toa que o Dunga anda meio paranóico.

terça-feira, julho 10, 2007

É de se indignar

Um teaser, conforme o jargão publicitário, é uma técnica utilizada para chamar a atenção do público para determinada ação que será realizada, como o lançamento de um produto, por exemplo. Por não deixa bem claro o que está se anunciando, gera curiosidade e grande expectativa para o segredo seja logo revelado.


Eis que em Porto Alegre, há 15 dias, anúncios em diversos formatos mostravam um código de barras e a frase “Faltam xx dias”, como na imagem acima, numa contagem regressiva que era alterada diariamente.

Aí começaram os problemas. Outdoors não registravam a mesma data, por exemplo. No mesmo dia, cheguei a ver três diferentes. Além disso, por ser um período muito longo, estava ficando irritante já aquela campanha. Mas se fosse algo muito legal, tudo bem.

O debate tomou conta da cidade. Zero Hora chegou a publicar que poderia ser um anúncio de uma ação de algum coletivo de artistas, como o que pintou um código de barras numa faixa de pedestres no centro. Nas ruas, se falava no anúncio do fim do mundo e até que era um aviso do PCC antes de começar a agir explicitamente na capital gaúcha.

Ontem, enfim, passando perto da rodoviária, o segredo se revela: era um anúncio dos 75 anos do Sindicato dos Comerciários de Porto Alegre (Sindec). Acho que nunca em minha vida me senti tão idiota quanto naquele momento por ter sido enganado por 15 dias com algo sem importância alguma. Com todos que conversei depois, muitos não acreditavam que era isso, ficavam desanimados.

Foi, sem dúvida, uma das maiores brincadeiras de mau gosto que já vi. Ao invés de se preocupar com as condições de trabalho da categoria, o Sindec resolveu comemoram seu aniversário com uma campanha que não deve ter sido barata, pela necessidade de se alterar os outdoors diariamente e pelos anúncios na capa dos principais jornais do Estado.

Enquanto isso, os comerciários não tem nada a comemorar. Afinal, muitos trabalham de segunda a segunda, privados do convívio com a família em domingos e feriados, com jornadas de trabalho que, muitas vezes, ultrapassam as dez horas diárias, pressionados por metas e obrigados a disputar com outros colegas comissões de vendas, a qualquer custo, a fim de complementar os baixos salários.

Isso é bem típico de sindicato. Olhar mais para o próprio umbigo que ao redor. Comemorar quando não há nada a ser celebrado. As estruturas sindicais, assim como as estudantis, estão perdendo força. Fazem um barulho para anunciar que estão negociando salários e melhores condições de trabalho e, na mesa de debates, diante dos patrões, apenas dizem amém. Viajam todo o país para participar de reuniões de centrais sindicais, das quais retornam sem nada útil. E tudo isso recendo contribuições descontadas nas folhas de pagamento dos poucos que conseguem um emprego formal.

Os sindicatos são estruturas em extinção. Afinal, um ex-líder da CUT, que já foi a mais barulhenta central sindical, hoje é ministro (e da Previdência, ainda...), numa das jogadas mais inteligentes do atual governo. Conseguiu, assim, calar uma possível fonte de oposição.

Enquanto isso, quem trabalha não pode perder tempo com essas coisas. Porque, de fato, tem que trabalhar para se manter no emprego, pois não tem que o defenda caso perca seu ganha-pão.

terça-feira, julho 03, 2007

E a TV Record RS chegou

A contagem regressiva estava correndo desde a meia-noite do último domingo, o primeiro dia de julho, à espera do meio-dia. Naquele horário, entraria no ar a primeira transmissão da TV Record RS, novo canal de TV gaúcho, em substituição à já saudosa TV 2 Guaíba.


E assim aconteceu. Nos últimos minutos da contagem, a trilha ambiental foi substituída pelo Hino Rio-Grandense, interpretado pela cantora nativista Fátima Gimenez. Ao zerar o cronômetro, a curiosidade gerada desde fevereiro, quando houve o anúncio da compra da Guaíba pela Record, começava a ter fim. Ou melhor, iniciava uma outra, agora para ver como será essa nova emissora.

Bom, nova é modo de dizer, pois a programação nacional já era conhecida pelos muitos anos que a Rede Pampa retransmitiu o canal para o estado. A novidade está na maior abertura à programação local, principalmente para o jornalismo, com três telejornais diários, com modernos equipamentos e um novo estúdio.

Tudo começou com uma mensagem de boas-vindas de um dos âncoras da nova TV, destacando os compromissos da empresa. Em seguida, um especial mostrou algumas das tradições e das belas imagens do Rio Grande do Sul. Depois, o domingo seguiu com a programação normal.

Acredito que a Record RS deva aproveitar o lançamento pelo interesse que ele gera. Nesse primeiro momento, muita gente dá uma chance para ver o novo, para saber como será. Mas, se não gostarem, voltam para o tradicional. Ou seja, não há espaço para ir ajustando e melhorando aos poucos, é preciso partir com tudo.

É a oportunidade, também, de ampliar a concorrência no mercado jornalístico. Esta foi praticamente anulada no final dos anos 70, quando praticamente uma rede sobreviveu (não cabe aqui comentar os porquês, todo mundo sabe do que estamos falando) e conseguiu atingir quase 100% de audiência. Assim, com um trabalho de ótima qualidade, que virou padrão, habituou uma geração inteira a não trocar de canal. Só nos últimos dez anos esse quadro começou a mudar e agora, passado o período de uma geração (25 anos) do monopólio, essa alteração pode continuar.

domingo, junho 17, 2007

Telefone sem fio

Vi na TV uma notícia que transformava a história do filme “Adeus Lênin” em realidade. Um ferroviário polonês acordou depois de 19 anos em coma, conseqüência um grave acidente de trabalho. Ou seja, perdeu todas as transformações ocorridas com a queda do comunismo e o fim da União Soviética, além de nem saber que tinha uma neta. Pela semelhança com o filme, ia escrever no Parcialidade Total. Mas uma reviravolta me fez mudar de idéia e postar aqui mesmo.

Segundo o MediaGuardian, a pessoa em questão, Jan Grzebski, 65 anos, desmentiu o fato ao ver a matéria publicada no jornal Gazeta Dzialdowska. “Nunca disse isso, nunca fiquei em coma por 19 anos, só disse algo ao jornalista e ele escreveu outras coisas e, cada vez que a história era publicada, inventavam novas situações”, disse. Na verdade, ele teria ficado desacordado por quatro anos e os demais, numa cadeira de rodas em sua casa, versão confirmada pela esposa e pelo médico do polonês. “Eu via as notícias e sabia do que estava acontecendo. E também pude segurar minha neta no colo, lembro que tinha medo, pois ela era tão pequena”, completou Grzebski.

A editora do jornal, Malgorzata Czrewinska, se defendeu. “Não é mentira. O fato é que existem diferentes tipos de coma. Tem aquele que a pessoa fica totalmente inconsciente e outros que acorda de vez em quando, sendo este o caso. Ele mesmo escreveu que entrou em coma no comunismo profundo e acordou numa Polônia livre”, disse.

Isso me lembra aquela brincadeira do telefone sem fio. O que era dito no início chegava totalmente distorcido no final. Agora imagine quando a mensagem já sai errada.

quarta-feira, maio 30, 2007

O fade in de um governo



De fato, concordo com meu amigo que as imagens falam por si só. Nós, brasileiros, estivemos privados da liberdade de imprensa (e individual) durante o período da ditadura. Por isso, ações como as que vimos no início desta semana provocaram calafrios em muitas pessoas. Até mesmo o senador José Sarney se pronunciou contra o fim da transmissão da RCTV - logo ele, que mandou censurar blogs que faziam propaganda contra sua eleição no Amapá, e que tem a concessão de várias empresas de comunicação ao seu favor, para o seu bel-prazer.

O vídeo acima é, na íntegra, o documentário "A Revolução não será televisionada", uma produção holandesa, feito no período em que um golpe de estado tirou Hugo Chávez do poder durante quatro dias. Quem assistiu ao filme "E estrelando Pancho Villa" (2003), consegue traçar o principal elemento que caracteriza os caudilhos de diferentes épocas: o bem da pátria às custas do sofrimento da nação.

O fade out de uma TV



Basta apenas a imagem, mais nada. Até porque, como disse nosso presidente ontem, isso é questão deles e não queremos que eles se metam nas nossas coisas. Não vou dizer que é uma ação ditatorial e que, se havia irregularidades, o certo seria buscar o processo na justiça. Mas não posso afirmar isso. Vivendo longe de Caracas e com todos os filtros pelos quais as notícias passam até chegar aqui, prefiro não fazer maiores comentários sobre o caso.

terça-feira, maio 22, 2007

Uma mentira como verdade (e alguém deu bola?)

"Uma mentira dita mil vezes, torna-se uma verdade"
Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista


Enfim saiu o gol mil do Romário. Na verdade, o que ele diz ser. As estatísticas da FIFA apontam 902, ainda assim uma marca impressionante, que o coloca como o segundo maior artilheiro da história do futebol, atrás apenas de Pelé. Ou seja, ele não precisava se expor tanto aos 41 anos, pois foi um grande jogador com lugar garantido nas memórias do esporte, sem forçar a barra.


Mas num país dito livre e democrático, qualquer um pode falar aquilo que quer, sendo responsável por essa opinião. Assim, Romário pode dizer ter feitos quantos gols bem entender. Ainda que conte tentos feitos em partidas como profissional, amistosos, categorias de base e peladas entre amigos, é seu direito. Caberia aos veículos de comunicação dar crédito a isso ou não, fazendo o julgamento racional do fato.

Por isso, o problema maior dos mil gols de Romário é que hoje a mídia brasileira e internacional entrou em pane e, desta vez, de forma descarada, uma mentira conhecida por todos foi publicada como fato real, como algo tão verdadeiro quanto a violência e o aumento do salário dos deputados. Manchetes de capa, horas de vídeos com a interminável repetição do pênalti e toda a cobertura que ainda virá para um fato que não existe.

Aproveitando, então, anuncio que estou voltando ao futebol de botão. Segundo meus cálculos, faltam 43 gols para eu chegar a marca dos mil. O primeiro jogo está marcado: meu Gremio de 83 contra o Íbis dos anos 70!

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Notinhas curtas sobre rádios nesses últimos dias:

Termina o jogo Gremio x Defensor, no Uruguai. Repórter entrevista jogador do time uruguaio, que falou no espanhol mais rápido que já tinha escutado na vida. Terminada a resposta, o jornalista pede, educadamente: “Por favor, puede hablar más despacito, para nuestros amigos de Brasil!”. A segunda resposta foi mais rápida que a primeira.

De direção nova, a Rádio Guaíba, nessa segunda, anunciou no seu último programa jornalístico, o Jornal da Noite, as manchetes dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho, do Grupo RBS. Aliás, há dias o locutor, ao avisar a meia-noite, vinha dizendo: “Na Rua Caldas Júnior, zero hora”.

Produtor liga para um dos países vizinhos para marcar uma entrevista. Atendida a ligação, diz alô e já emenda um “Quien fabla?”

quarta-feira, maio 16, 2007

Eu não vi o Papa...

Em tempos de uma igreja católica tão rígida, não sei se é pecado o fato de não ter acompanhado muitas coisas da visita do Papa Bento XVI na última semana. Vi basicamente o tradicional o Papa foi aqui e ali, fez isso, fez aquilo, criticou aquilo outro, sem me aprofundar muito.

Papa Bento XVI (no detalhe, com zoom de algumas vezes) em uma benção na Praça de São Pedro. Ainda muito distante do povo...

A primeira imagem que vi foi a da chegada de Bento XVI na quarta. Estava curioso para ver se aconteceria o beijo no chão como fazia seu antecessor. Mas tão logo desceu as escadarias do avião da Alitalia foi direto cumprimentar as autoridades que ali estavam. Vi a repetição da cena pela Band, no programa do Datena, que havia entrado ao vivo, e parecia ter relembrado seus tempos de futebol, falando mais ou menos assim: “Abriu a porta do avião, é o Papa que está chegando minha gente, apareceu alguém por ali, atenção, olha lá, vem chegando pelo corredor e... APARECEU O PAPA! (agora aos berros, esquecendo que o microfone já amplia a voz) O Papa está no Brasil! (3 vezes) O Santo homem está entre nós! Bem vindo!”. Enfim, provavelmente pela emoção do momento, acabou até elogiando o Lula. “Esse é o verdadeiro homem do povo, um torneiro mecânico que se tornou presidente e tão bem representa o povo brasileiro”, disse. O pessoal da clipagem do Planalto tem que guardar essa, o Datena não vai repetir...

A todo momento, a mídia tratava de amenizar os severos discursos que Ratzinger fez no Brasil. Diziam estar impressionados com a simpatia dele, pois esperavam alguém sisudo. Mas alguém já viu visitante convidado de cara fechada? Só se você é obrigado a visitar aquela tia que não gosta, aí sim.

A verdade é que o atual Papa não é carismático. Mas é educado, e por isso responde a atenção que lhe é dada com certa simpatia. Tal qual se falava do Serra nas eleições 2002. Na Itália, por exemplo, ao invés de Benedetto XVI, o chamam de Papa Ratzinger. Ainda não houve integração entre os vizinhos, não se desfez a imagem do conservador cardeal alemão. Qualquer tentativa foi agravada em novembro do último ano, quando alguns assessores do Vaticano criticaram humoristas italianos como Maurizio Crozza (procure no YouTube) e Fiorello pelas sátiras que faziam ao comandante da Igreja Católica. Mas como disseram à época num programa de debates na TV, tem meio melhor de humanizar alguém do que o humor?

A todo instante os meios envolvidos na cobertura da visita procuravam enfocar a quantidade de pessoas que esperavam por qualquer palavrinha do Papa, mesmo com o atípico frio. Penso que, se um ser de outro planeta baixasse em São Paulo naqueles dias, não conseguiria distinguir se era um encontro religioso ou fãs da banda pop do momento. Claro, a maioria estava ali por suas convicções, mas a muitos os rígidos discursos em relação a aborto, respeito à família, valores morais e castidade entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Mas as fotos de Ratzinger e as lembrancinhas vendidas pelos ambulantes já estão junto aos recortes sobre RBD, Backstreet Boys, New Kids on the Block, Menudos e outros tantos autógrafos de artistas e jogadores de futebol.

quarta-feira, maio 09, 2007

Cinecittà: 70 anos na produção de sonhos

Lendo um informativo da escola de italiano, descobri que Cinecittà completou 70 anos no final de abril. A “Cidade do Cinema” ocupa uma área de 400.000 m² em Roma (o equivalente a 40 campos de futebol), possui 22 estúdios e foi fundada em 1937, com um motivo não muito nobre. À época, a Itália estava sob o comando do fascismo e, na visão do Duce Mussolini o cinema era o principal meio para propaganda.


Cinecittà vista do alto. Seu perímetro é de 3km. (Imagem do Google Earth)

Com o fim da 2ª Guerra Mundial e, por conseqüência, a queda do regime, começa o período do auge dos estúdios, levando a ser reconhecido como a Hollywood italiana. A partir dos anos 50, é a intensa a circulação de produtores e artistas de sucesso nos Estados Unidos em terras italianas. Sem entrar nas questões políticas dessa atitude, ali foram filmados, por exemplo, “Ben Hur” e “Cleopatra”.

Os “pratas da casa” também não deixam por menos. Diretores como Roberto Rossellini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti criaram ali obras primas que inseriram o cinema italiano no rolo das grandes produções internacionais, por seu estilo próprio de contar suas histórias. Neste aspecto, não dá para esquecer de Federico Fellini, fiel locatário do Estúdio nº 5. Naquele espaço de 40x80m, com o apoio de grandes cenógrafos, transformou em realidade os sonhos que davam origens aos seus filmes. Ali também recriou sua cidade natal, Rimini, e rodou clássicos como “A Doce Vida” (de certa forma, uma história sobre a própria influência da Cinecittà na Itália), “E la nave va”, “Amarcord”, “Satyricon”...


Pórtico da Cinecittà na Via Tuscolana, em Roma, numa tenebrosa tarde de outono.

Após tantos sucessos, Cinecittà passou por um período de dificuldades nas décadas de 70 e 80, iniciando na última década, quando foi parcialmente privatizada, um processo de lenta recuperação. Desse período mais recente, hospedou os sets de filmes como “O Poderoso Chefão 3”, “Daylight”, “O Paciente Inglês” e “Gangues de Nova York”.

sexta-feira, abril 20, 2007

O troco do Carlino

Abri o caderno que usei nas férias e vi, num canto, uma anotação de um post para o blog. Nem me lembrava mais.

Há um jornal italiano que se chama "Il resto del Carlino". A tradução seria "O troco do Carlino". Circula na região da Emilia-Romagna, onde estão cidades como Parma e Bologna.

Há algum tempo, existia na região um jornal que se chamava "Il Carlino". Esse era, na verdade, o nome dado à moeda necessária para comprar o jornal (é como se tivéssemos um jornal de R$ 1 chamado "O Beija-Flor").

Com o passar do tempo, o preço do jornal subiu, e um carlino não bastava mais para comprá-lo. Com isso, sobrava troco, que era utilizado para comprar qualquer outro diário. Para não perder leitores, a editora decidiu lançar um jornal menor, que custasse o preço do troco do Carlino, dando origem ao nome em italiano da publicação. Hoje, se não me engano, "Il Carlino" não existe mais. Mas "Il resto del Carlino" é um dos principais jornais da Romagna.

Aliás, esta é uma característica do jornalismo impresso italiano, a forte divisão dos jornais nas regiões. Os principais, de âmbito nacional, produzem edições regionalizadas. Entre os grandes, estão o Corriere della Sera (Milão), La Repubblica (Roma), Il Tempo (Roma), La Stampa (Turim) e periódicos esportivos diários, como a Gazzetta dello Sport (publicado em papel rosa) e o Corriere dello Sport.

quinta-feira, abril 12, 2007

Copa ou não Copa?

Nesta quarta, dia 11, membros do comitê da campanha da Colômbia para sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014 resolveram retirar a candidatura. Com isso, o Brasil passa a ser o candidato único para receber o evento, uma vez que, por um rodízio estipulado pela FIFA, naquele ano a competição deverá acontecer na América do Sul. Não significa, no entanto, que a Copa vai acontecer no Brasil. O país ainda precisa cumprir os requisitos que a entidade solicita.



Ao ouvir essa notícia, tentei lembrar do primeiro colombiano que tomei conhecimento. Acho que foi o Higuita, ou o Valderrama. Como para mim ambos surgiram na mesma época, não sei quem veio primeiro. Mas com o tempo descobri outras pessoas como Pablo Escobar, Shakira, Fernando Botero, Álvaro Uribe, Gabriel Garcia Márquez até chegar ao Rentería.

Além das pessoas, aprendi uma característica do povo colombiano que admiro: a capacidade de ser humilde. Bom, independente da nacionalidade, saber admitir que o passo a ser dado pode ser maior que a perna é uma prova de inteligência. Infelizmente, em terras brasileiras isso não se aplica muito. Então você vê aquela situação do “bom, eu não sei fazer bem, mas posso tentar, com um jeitinho eu consigo”. O resultado é aquele: trabalho incompleto, sem qualidade e a necessidade de fazer tudo novamente, perdendo tempo.

Como torcedor do futebol, sempre gostei da idéia de uma Copa no meu país. Adoraria poder ver um jogo de seleções de outras partes do mundo (como os habitantes de Leipizig, que tiveram a chance de ver Irã x Angola no ano passado) e também a troca de culturas que isso permitiria. Mas agora que a possibilidade está se tornando real, começo a admitir que isso não é coisa para a gente, pelos investimentos necessários.

Claro, haveria um retorno destas ações. A Copa da Alemanha deu lucro na organização (20 milhões de Euros) e também influenciou até no resultado da economia do país no último ano. Balanço da Associação de Comerciantes indicou a geração de 2 bilhões de euros no setor (300 milhões só no setor hoteleiro e gastronômico) e 50 mil empregos. O governo arrecadou em impostos 7,2 milhões de euros dos prêmios distribuídos pela FIFA, mais 57 milhões do Comitê Organizador e 40 milhões com a venda de ingressos. Mas a Alemanha já tem uma economia e uma situação social adaptada a permitir este resultado.

O Brasil só vai ter sucesso na organização com um grande investimento privado. Não é nem pelo fato de que o dinheiro público deve ir para setores sociais. Dinheiro do governo em grandes obras é igual a desperdício, superfaturamento, desvio de verba, atraso nas obras e serviço porco.

Basta ver o que está acontecendo com o Pan 2007. Ninguém está publicando, até para não assustar o povo ou pra não fazer figura, mas as obras estão muito atrasadas e, sinceramente, acredito que não vão terminar no pouco tempo que falta. Até as obras das Olimpíadas de Pequim estão mais adiantadas.

Aliás, o Pan vai ser decisivo para pensar a Copa. A opinião pública, os delegados da FIFA e nossos representantes vão poder avaliar, com essa experiência, se em sete anos poderemos receber o segundo maior evento esportivo do planeta. Eu, por enquanto, estou dividido, mas quase pendendo para um lado. Acho que vou ter que ir longe para poder ver um jogo de Mundial.

sexta-feira, abril 06, 2007

O pedaço que falta

O Crocodilo, de Nanni Moretti

Em pouco mais de 60 anos de república, a Itália teve 60 formações de governo diferentes. Ou seja, praticamente uma por ano. Uma das figuras mais folclóricas e controversas a ocupar o posto de primeiro-ministro foi o magnata Silvio Berlusconi, que ficou no poder pelo período mais longo da história republicana do país, ao ocupar o cargo de “Presidente del Consiglio dei Ministri” entre 2001 e 2005, num total de 3 anos, 10 meses e 12 dias!

É sobre essa figura que se constrói a história de O Crocodilo, filme do diretor italiano Nanni Moretti. O nome é igual em italiano, “Il Caimano”, que é também o apelido dado ao ex-primeiro-ministro em um artigo do jurista Franco Cordero no jornal “La Repubblica”.

Acima das questões políticas, o espectador encontra um filme sobre como fazer um filme. É o cinema falando do cinema. Começa pela definição do roteiro, a procura por financiamento, atores, produção de cenários e a finalização do processo, cortando boa parte do planejado pela falta de recursos.

Um produtor de cinema, falido nos negócios e no amor, tentar mudar a situação fazendo um novo filme. Mas ele perde sua primeira idéia para uma rede maior, e resta apenas o roteiro que lhe foi entregue por uma jovem roteirista. Sem ler o roteiro, dá continuidade ao projeto e não percebe que o texto que tem em mãos é sobre Berlusconi.

Ao longo da narrativa, Moretti constantemente provoca seus conterrâneos a repensarem o país. Seja pela figura do investidor polonês que sempre se refere ao país no diminutivo (“Vocês são muito engraçados. Vivem nessa Italiazinha e se dão por satisfeitos assim”) ou por meio de frases como “O mundo inteiro ri de nós” e “Lá fora ninguém consegue entender como ele pôde nos paralisar por tanto tempo”.

O filme é marcado por buscas. O produtor está atrás da recuperação de seu casamento, o que acredita ser possível com a realização do filme, mesmo objetivo da jovem roteirista, que também almeja escancarar um figurão político do país, pois não admite que isso ainda não tenha sido feito. A esposa do produtor, por sua vez, deixou de ser atriz para tentar a carreira no canto lírico.

Mas a procura mais significativa é a do filho do produtor, que não consegue encontrar a pecinha do jogo de montar para concluir sua nave espacial. Por mais simples que pareça, simboliza as buscas das demais personagens e é o próprio retrato da Itália. Após um período de recuperação no pós-guerra, o país tinha tudo para entrar num caminho de desenvolvimento, mas uma dessas peças se perdeu e até hoje os italianos a procuram, sem mesmo saber qual é.

Mas quem é Berlusconi?

As melhores respostas achei no site da BBC. Homem mais rico da Itália, e um dos 14 do mundo, é proprietário de um império que envolve comunicações, publicidade, seguros, alimentos e construção, além de ser o proprietário do Milan, time de futebol onde hoje jogam Dida, Cafu, Kaká, Ricardo Oliveira e Ronaldo.

Outra característica de destaque é a capacidade de fugir de acusações de corrupção. Mas esta é conseqüência de um comportamento que um italiano me explicou e fica bem explícito no filme. Lá não há um debate racional sobre Berlusconi. Ou você ama, ou você odeia. Mais ou menos o que acontece aqui com Paulo Maluf, Antonio Carlos Magalhães, Fernando Collor, Anthony Garotinho...

E se alguém acha que o Lula ou Bush são campeões nas gafes, Berlusconi também entra no páreo, e vem com tudo.

1) No discurso na presidência do Parlamento Europeu, em 2003, ao falar com o representante alemão Martin Schulz:
Sei que na Itália estão produzindo um filme sobre os campos de concentração nazistas. Eu poderia lhe indicar ao papel de Kapo (guarda escolhido entre os prisioneiros). Seria perfeito
Diante da retaliação do representante espanhol, que pediu mais respeito e que retirasse as palavras ditas, respondeu:
Para vocês falta o sol da Itália. Vocês deveriam ir mais ao nosso país como turistas, porque aqui são turistas da democracia!

A cena, que também entrou em “O Crocodilo”, está no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=9HtmfCyVMbU

2) Sobre o conflito pela condição de dono de uma empresa de comunicações e o cargo de primeiro-ministro: “Se eu, cuidando dos interesses de todos, também me preocupar com os meus, não se pode falar em conflito de interesses”

3) As auto-definições, as melhores:
- Eu sou Jesus Cristo da política. Sou uma vítima paciente, agüento a todos, me sacrifico por todos.

- O melhor líder político da Europa e do mundo.

- Não tem ninguém no cenário mundial que possa competir comigo.

- O homem certo no emprego certo.

- Eu não vou para meu escritório pelo poder. Tenho casas por todo o mundo, navios estupendos, belos aviões, uma bela esposa, uma bela família. Eu vou lá para fazer um sacrifício.

- Na Itália sou visto como quase um alemão pelo meu “workaholism”. E eu sou de Milão, cidade onde as pessoas trabalham mais. Trabalho, trabalho, trabalho – sou quase um alemão”


E tem mais: http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/3041288.stm

A propósito:

O cinema argentino se especializou em refletir os problemas sociais do país e consegue retratar muito bem os seus anos de ditadura. O cinema italiano investe no realismo e tem obtido bons resultados. Aqui, os principais filmes ainda são de humor ou para o público infantil. Salvam-se raras exceções, como “Doces Poderes” (1996), de Lúcia Murat, ou os filmes de Sérgio Bianchi (“Quanto Vale ou É por Quilo?” e “Cronicamente Inviável”, verdadeiros socos no estômago da classe média metida a elite). Mas tem muito brasileiro merecendo um filme como “O Crocodilo”. Quem poderia ser o primeiro?

segunda-feira, março 12, 2007

Jornalismo diversão

Outro dia, no ônibus, uma menina aponta um outdoor na rua e comenta com a mãe:

- Viu aquela propaganda ali? Aquele computador que a gente queria por R$ 2.229.
- Mas tem aquele outro, que já vem com Windows Vista, acho que é melhor.
- Windows Vista? O que é isso?
- Não sei bem o que é. Mas diz que é um negócio novo de computador.


Na hora, comecei a pensar se nós, jornalistas, estamos conseguindo cumprir o nosso papel de levar informação clara a quem espera por isso. Tomo por exemplo a situação que presenciei. Apesar do grande espaço dado na mídia dado desde o boato da criação do novo produto até seu lançamento, aquela senhora e sua filha não sabiam do que se tratava e se aquilo era útil a elas ou não.

Tecnologia pode não ser o tema mais geral e interessante para os (poucos) que lêem jornais e os (não muitos) que acompanham com atenção aos noticiários eletrônicos. Até porque vi uma pesquisa em uma revista que cerca de 60% dos gaúchos jamais acessaram a Internet e pouco mais de 50% nunca, insisto, em nenhuma oportunidade, utilizaram um computador. Mas tratamos como se fosse algo comum, e qualquer telejornal sugere procurar mais informações sobre uma notícia podem em seu site.

Não apenas na tecnologia não conseguimos ser claros. Na política, anunciamos a criação de projetos no Congresso, planos de aceleração do crescimento, mas não conseguimos mostrar como isso vai afetar o dia-a-dia da Dona Maria, como dizia o professor Leonam.

Na economia, periodicamente divulgamos a nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para definir a taxa básica de juros no país (a famosa taxa Selic). Publicamos altas e baixas, a ata na semana posterior à reunião, mas não conseguimos deixar claro que, se a taxa cai, as pessoas deveriam cobrar de bancos, financeiras e lojas a redução de suas taxas em empréstimos, financiamentos e crediários.

Enquanto o ônibus lotado seguia seu curso entre avenidas esburacadas, me surgiu uma dúvida: o que explica o caso do esporte, no caso, do futebol? É impressionante a capacidade das pessoas de comentar os resultados da última rodada, táticas, os motivos pelos quais tal jogador deveria fazer a primeira função do meio-de-campo, quem os clubes de todo o mundo contrataram e venderam, onde anda fulano de tal...

Passou a ficar claro. Naquilo que as pessoas têm interesse, elas correm atrás de mais informações. Seja a novela, o Big Brother, o campeonato brasileiro... Enfim, lêem o que for entretenimento. Por isso, a mesma atenção não é dada à política e à economia, por exemplo.

Então, no que o jornalismo se torna? Para o povo, o que fazemos não passa de mais uma diversão qualquer. Nessa visão, a realidade estaria na novela das oito, nas letras do rapper do momento, ou na fala do padre/pastor na última missa/culto. O jornal apenas serviria para dar o horóscopo, o tempo, as fofocas ou embrulhar os ovos na feira.

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A última semana foi marcada pelo Dia Internacional da Mulher. Bom, e pela visita do Bush também. Mas, voltando às mulheres, a italiana RAI me deu uma experiência nova no último sábado. Vi, pela primeira vez, uma partida de futebol narrada por uma mulher. Diferenças? Apenas o tom da voz.

quarta-feira, março 07, 2007

A propaganda e a notícia

Lendo dia desses um dos grandes jornais de Porto Alegre, uma matéria me chamou a atenção. O texto focava em um dos gadgets do novo milênio, o blackberry. Em meio às vantagens do aparelho, havia o depoimento de três executivos. Coincidência ou não, os três trabalhavam em empresas de telefonia celular. Na página ao lado, outra coincidência: um anúncio de página inteira de uma dessas empresas.

Há cerca de dois anos, quando participei como conselheiro (uma espécie de leitor-ombudsman) do mesmo jornal, uma situação semelhante foi pauta da nossa reunião. Uma matéria de página inteira exaltava a boa fase dos empreendimentos imobiliários na serra gaúcha - aumento da procura, satisfação dos moradores/investidores, a beleza dos encantos turísticos da região, enfim... Na página ao lado, a propaganda de uma construtora anunciava o lançamento dos seus empreendimentos em Gramado e Canela. O detalhe é que esta empresa é, além de tudo, acionista do referido veículo.

Aliás, as duas matérias estavam em seções que não correspondiam diretamente a sua editoria - no caso, informática e imóveis.

Ainda não foi feito um estudo sobre o quanto as pessoas são influenciadas por essa forma de propaganda violenta, que invade as redações dos jornais. Mas que há um índice significativo que se se deixa levar, com certeza há.

O termo "pauta 500", pouco falado nas aulas do curso de jornalismo, é uma prática comum para quem vive a profissão. Significa que a matéria proposta não é do interesse coletivo, sem um teor noticioso prático, mas é benéfica "financeiramente falando". Em resumo, transformam a notícia numa publicidade barata e subliminar.

Ainda citando o primeiro exemplo, as empresas prestadoras de serviços telefônicos são as campeãs de queixas do consumidor pelo Procon. Ao mesmo tempo, basta abrir um jornal para perceber que elas são as maiores anunciantes dos veículos impressos. Qual a chance de ser publicada uma matéria criticando o trabalho das telefônicas? Praticamente nula. 

O Jornalismo há muito tempo rompeu a barreira do romantismo para afundar de vez na era da indústria. Os repórteres são meros rascunhos do que um dia idealizavam ser, tendo seu talento reduzido a uma métrica parnasiana de produção onde liberdade e inovação são palavras muitas vezes desconhecidas - o que é vergonhoso para grandes grupos de mídia pensarem assim.

Não digo que é um dever da nova safra de jornalistas mudar essa realidade. A história nos mostra que os erros cometidos pela elite tendem a se perpetuar pelas gerações seguintes. Essa é uma responsabilidade de todos que trabalham na área da comunicação, sejam veteranos ou focas. Impossível não é. Difícil é dar o primeiro passo e tornar-se um exemplo a ser seguido.